quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mundo Secreto


Há quem acredite que por detrás dos espelhos existe um mundo secreto
Um mundo onde todos os objetos são perfeitos
Um mundo sem relógios

Um mundo onde todas as cores são vivas
Os animais falam
E as plantas cantam doces melodias

Nesse mundo não se vê sofrimento
Não se tem lamento
E nem engarrafamento

Um mundo que não cobra aluguel
Não é de papel
E não permite solidão

Sentem-se todos os cheiros
Todos os desejos
E todos os sabores

Um mundo onde não se compra
Não se vende
E tudo se tem

Nesse mundo não tem duende
Não tem dor de dente
Nem pneu sobressalente

Não falta água
E nem falta comida
Não tem briga

Tudo se entende
Tudo tem vida
E não tem despedida

Quem foi pra lá não voltou pra contar
Mas deixou uma carta com um segredo
Que passa nas mãos de poucos
De geração em geração

O segredo é tão simples
Que é difícil acreditar
Pra descobrir não basta muito
Mas quem quer tentar?

Jonatas Pierre

terça-feira, 26 de julho de 2011

Nuvens


Quando nuvens ao mundo
Não se sabe o que esperar
Se será sombra e abrigo
Ou será escuridão e perigo

Há quem busque figuras e imagens
Há quem muito ansioso reza pra chegar
Há quem note apenas quando oculta a luz
Há quem acredita que se pode pegar

Quando clara a muitos seduz
Quando cinza arrepio produz
Quando movimenta erradia beleza
Quando ausente da vontade de criar

Não deixam rastros
Não pedem pra chegar
E nem avisam que vão partir

Conhecem o céu
Conhecem a terra
Conhecem o mar
O sólido, o líquido, o gasoso

Aparecem, dançam, somem

        Nuvens
      nUvens que vêm
    nuVens que vão
 nu vEns
        Nu vais
    nuS


Jonatas Pierre

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Meu Quase Primeiro Amor

De um tempo pra cá
Todos os dias quando saio da estação do metrô
Sou recebido com um maravilhoso sorriso

Ela tem os olhos brilhantes e grandes
E os lábios parecem desenhados
O belo sorriso é sempre o mesmo

O meu dia fica uma paz
Sempre correspondo com um grande sorriso também
Mas o dela é perfeito

Porém, com o passar do tempo, reparei uma coisa
Ela está ali todos os dias e sempre sorrindo pra mim
Exatamente no mesmo lugar
E com a mesma roupa

Estava bom demais para ser verdade
Porque eu?
Será que algo em mim a atraiu?
Será que era só educação mesmo?
Será que estava me apaixonando?
Dentro do meu pessimismo resolvi descobrir

No dia seguinte fui um pouco mais cedo
E lá estava ela no mesmo lugar e com a mesma roupa
Passei e respirei fundo com o sorriso
Devolvi com outro bem empolgado
Porém, andei um pouco e me escondi
Logo, vi que ela sorria para todos que passavam ali

Fui para a escola pisando forte
Não sabia se estava com ciúmes
Ou se realmente eu estava confundindo tudo
Mas ainda assim ela encantava meu dia

Com aquilo tudo na cabeça, resolvi voltar da aula de metrô com um amigo
Comentei a ele sobre a linda menina
Quando chegamos mais ou menos perto do local
Chamei Jacob para entrar na barraquinha de bala
Dava para vê-la dali e ela estava lá no mesmo lugar e sorrindo

Dei uma cutucada nele e disse:
- Jacob! Olha ela... Lá, de vermelho
Ele olhou e soltou uma gargalhada:
- Isaac! Aquilo é um outdoor!

Jonatas Pierre



quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ventos do Coração


Seria o amor um vento?
Seria a saudade um vento?
Seria a dor um vento?
Ou tudo não passa de lamento?

Tão doce e sensível é o coração
Que no embalo das emoções
Altera as pulsações
De acordo com o vento

Há ventos fortes e intensos
Devastadores e profundos
Mas que duram pouco
E logo são esquecidos
Esses são as rajadas passageiras

Há ventos fortes e intensos
Devastadores e profundos
Mas que duram pouco
E deixam marcas eternas
Esses são os tornados

Há ventos fracos e discretos
Que abalam um pouco a estrutura
Mas que também duram pouco
E normalmente não são lembrados
Esses são os ventinhos

Há ventos fracos e discretos
Que abalam um pouco a estrutura
Mas que também duram pouco
E normalmente não são aproveitados
Esses são as ventanias

Há ventos leves e contínuos
Discretos e profundos
Que não tem duração
Que abalam e marcam o coração
Esses são as brisas

Há ventos barulhentos
Ventos perdidos
Ventos sem destino

Há ventos vadios
Ventos sozinhos
Ventos em todas as direções

Há corações trancados
Corações petrificados
Corações sem emoções

Há corações sensíveis
Corações livres
Corações cheios de ilusões

Ventos que esvaziam
Ventos que preenchem
Ventos que são apenas ventos
Ventos do coração
Qual vento te toca nesse momento?

Jonatas Pierre

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vermelhmão

Pega o seu melhor tênis
Todo preto com pequenos detalhes em vermelho
As meias precisam ser as especiais
Brancas com duas listras azuis até um pouco abaixo do joelho

Laço um pouco apertado
Preenche o espaço vazio no tênis com algodão
Passa um pano molhado para tirar a poeira
Enfia a ponta de bermuda marrom para dentro da meia

Pronto, agora dá dois saltos para testar
Precisa estar tudo bem confortável
Coloca o cinto
Verifica se o estilingue está no bolso esquerdo
Confere se no outro bolso estão os chicletes

Camisa amarela de mangas compridas para dentro da bermuda
Na frente, duas mãos abertas
Gravadas de tinta vermelha
E alguns respingos aleatórios
E no bolso de trás da bermuda o mapa

Camisa azul enrolada na cabeça
Óculos escuros
Três traços de preto em cada bochecha feitos a dedo
Fones bem grandes que tampam as duas orelhas

Amarrado no pescoço as pontas da toalha vermelha
Na mão esquerda a super espada de cabo de vassoura
Na mão direita o super escudo de tampa de panela
E na alma a certeza de ser um grande herói

Jonatas Pierre

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Marcas no Asfalto

Os sapatos já estão bem gastos
Na camisa não há mais espaços para costuras
A calça sem bolsos
E o velho chapéu ainda fornece sombra

O chão está mais duro
O tempo mais frio
A barba mais longa
E o cabelo mais comprido

O dia mais longo
A noite mais curta
O sono mais raro
As flores mais lindas

A poeira mais pesada
A pele mais suja
Os olhos cansados
A alma partida

Perdido no espaço
Sem querer a saída
Ouvindo de todos os lados
O ranger de dentes em plena harmonia

Sorriso estampando
Fome inibida
Um nó apertado
A boca em salivas

Tormentos passados
Segredos escondidos
Marcas no asfalto
Olfato perdido

Lembranças cravadas
Correntes que brilham
Faróis apagados
E lágrimas escorridas

Jonatas Pierre

terça-feira, 5 de julho de 2011

Só U

Hoje eu consegui ver de onde ele sai
Acordei cedinho
Estava escuro ainda
Levantei sem fazer barulho para não acordar mamãe e papai

Abri a porta da sala
Sabia que já estava na hora dele aparecer
Sentei na mureta da varanda
E fiquei olhando pro céu

Será que ele aparece pequeno e vai ficando grande?
Mas onde ele vai aparecer?
No meio do céu?
Logo tive que ir para o meio do lote para conseguir ver todas as direções

O céu que estava escuro começou a clarear
Sentia que ele está vindo
Mas ainda não sabia onde apareceria
Fiquei atento quase sem piscar

A claridade do céu foi aumentando
E em um lado estava ficando mais forte
Foi pra lá que fiquei olhando
E não é que era o lado que ele estava vindo

Ele saiu de dentro da montanha
E já saiu grande
Era bem longe, mas forcei ao máximo os olhos
E não consegui ver pedras cair da montanha

Ele foi saindo lentamente e clareando mais o céu
Quem o puxa?
Eu o vi subindo e nada estava empurrando
Será que era corda invisível?

Só sei que agora sabia de onde ele saia
Mas não faço a mínima idéia de como ele saiu dali
No dia anterior ele tinha caído do outro lado também na montanha
Ainda descubro seu segredo meu amigo
Sol

Jonatas Pierre

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Viagem Mental


E se nosso cérebro fosse uma aldeia
Repleta de anões espertos e ágeis
Que obedecem ao comando de um ser superior a eles
E simplesmente executam o que lhes são ordenados

Quando recebem a instrução de alguma tarefa em zonas baixas
Eles descem escorregando pelas veias até o local apontado
Executam direitinho o que lhe fora pedido
E retornam à aldeia utilizando as CélulasTaxi

Existem também os anões de brancos
São soldadinhos que ficam a passear por todo o território
E defendem quando algum intruso tenta invadir
Eles usam macacõezinhos brancos

Tem os anõezinhos que usam um macacão vermelhinho
Eles vivem trafegando pelas veias e artérias
São responsáveis pelo transporte, coleta e entrega
E às vezes dão carona para anões que estão pelo meio do caminho

Toda vez que o ser superior manda a ordem
Logo saem disparados os anõezinhos
Ora para levantar um dedo
Ora para descer as pálpebras
Ora para ajudar a separar a comida que o ser superior joga no garladão

O garladão é uma sala onde os anões separam os alimentos
Do garladão saem a comitiva dos anões de vermelhinho
O que não é entregue para os vermelhinhos distribuírem
São colocados no farladão para serem devolvidos

Os anões não param um segundo
Mas sempre estão revezando nas tarefas
Às vezes são surpreendidos pelo ser superior
Porém, continuam a trabalhar

Quem já viu ao menos um desses anões?
E se eles rebelarem?
Quem é e o que é esse ser superior?
E se não for verdade?
E se for não mentira?
Seria um delírio ou uma viagem mental?
O que seria?

Jonatas Pierre